terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sem Tempo Para Ser.

"Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho 'presente' é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido.
As utopias liberais do século XX diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar a competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo.
Funcionar é preciso; viver não é preciso. Por que tudo tão rápido? (…) Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, como celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção."
Crônica: "Nossos dias melhores nunca virão?"
Livro: Amor é prosa, sexo é poesia.
de Arnaldo Jabor



Preparando minhas aulas de Qualificação Profissional esta semana, recebi a sugestão de trabalhar em sala de aula com o filme Tempos Modernos do grande Charles Chaplin, ao abordar o tema Revolução Industrial e as mudanças do modo de produção. Me veio a reflexão de como as mudanças estão acontecendo de maneira cada vez mais rápida, em uma cena do filme onde Chaplin se submete a testar uma máquina que automatizava o ato de comer, que casa perfeitamente com a ideia de que no presente (futuro para aqueles das épocas passadas) a vida sera mais mansa, de que haveriam máquinas fazendo tudo por nós, uma robô doméstica (quem nunca assistiu Os Jetsons?!), capaz de desenvolver as mais complexas atividades. Mas ao contrário do que pensávamos a tecnologia não está presente para nos dar sossego. Lembro bem que na minha infância do início dos anos 90 (bem vivida por sinal, muito diferente dessa leva de crianças precoces que vemos hoje – mas isto dá outro post) sonhávamos com as invenções do ano 2000, esta virada do milênio parecia algo místico, sobrenatural, um número redondo, bonito, tão bonito de nomeou tudo que tinha de mais moderno na época. Hoje, em 2010 (este que também é um número bonito) torço para que o “progresso” chegue, mas não o progresso que nos faz correr, que nos enfia esta lógica insana da produtividade, quero o progresso idealizado no século XX, que me deixa no ócio, de pernas para o ar, com mais tempo para mim, para ser eu mesma, e não esta máquina programada para executar comandos.
Faço um apelo ao progresso, para que ele venha logo, repetindo a pergunta do Jabor, ao batizar sua crônica: “Nossos dias melhores nunca virão?
Não temos tempo para ser, apenas para existir.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu gosto.


"A vida gosta de quem gosta dela!"


Verdade.
Quando passei a gostar mais da vida, a vida passou a gostar mais de mim, me deu mais oportunidades, me abriu mais sorrisos e fui acolhida por mais abraços.
Sorri para vida, e a vida sorriu para mim (que clichê). Mas tem algo mais chichê que a felicidade? Se tem algo que nos faz sorrir e estar de bem com a vida, tenho certeza que este algo é bem clichê. Clichê que nem beijo na chuva, andar de mãos dadas, surpresa no aniversário, ganhar rosa e achar super romântico (aliás, tudo que é romantico geralmente é clichê). Como é bom viver rodeadas de coisas clichê, o clichê é simples e direto, como devia ser a vida.
Descomplique, que o coração agradece!
A vida tá ruim? Goste dela mesmo assim, você só tem essa na mão. Faça dela mais alegre, mais radiante, mais clichê, facilite sua existência, facilite pra você, se permita.
Goste mais da sua vida, para que ela goste de você.
E nisto a vida nos dá mais uma lição, gostar de quem te gosta. Que vida, sábia vida, como temos o que aprender com ela.
Encerro o texto afirmando que GOSTO, gosto da vida, mas gostaria também de gostar de quem me gosta.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crescer Criança.

Hoje, com a virada de muitas páginas vividas, continuo ainda com os repentes de criança, aprendi várias coisas, dentre elas a mais importante eu julgo ter sido aprender a pensar com a razão, mesmo que isto tenha sido o que mais me afasta do mundo maravilhoso da infância.
"Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito. Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo".
[Kevin Arnold, no episódio "Coda" – Anos Incríveis ]


Crescer. A cada dia, a cada alegria, a cada problema, a cada vitória, vou aprender mais, vou crescer. E que crescer não seja uma experiência de abdicação. Que seja, ao contrário, o ato de aprender sempre novos meios de ter o que deseja, de ser como se deseja.
Que meu crescimento traga o que eu espero: muito mais de uma criança que ainda tem muito pra onde crescer. Muito mais coragem e uma mente cada vez mais aberta. Muito fôlego, criatividade, curiosidade, inteligência. Muito mais... Mas desejo conservar em mim um pouco da criança que fui, os olhos brilhantes, o sorriso maroto, pensamentos traquinas e o choro quando ouço um "não" , para as coisas que eu quero. Desejo a fé de criança, a persistência, a esperança, porque esse mundo é grande demais pra nos acomodarmos e desistirmos dele!
Crescer criança, num misto de razão e sensibilidade.

Feliz dia das crianças!

sábado, 2 de outubro de 2010

Bicicleta Sem Freio.

"Conjunto de peças raras
tresloucadas e encaixadas
intimamente peculiares
indissolúveis em sua união sagrada
amizade
ladeira abaixo
à toda velocidade.
rampa acima
frio na bariga
alçando vôo alucinante.
alegria traquina de criança.
arrojo determinado dos profissionais.
dedicação dos amadores
(ou seria dos “amantes”)
no vôo o traço criativo
desenhando manobras de estética surpreendente
aterrissagem indefinida
tombaço engraçado?
vai bicicleta sem freio.
cada vez mais rápido...
mais alto...
mais lindo...
cada vez mais livre"

[Bicicleta sem freio - Savio]



Achei este poeminha maluco minha cara e a cara dos meus companheiros e companheiras neste caminho que é minha vida. Nós que temos a alegria traquina de criança e fazemos desse conjunto de peças raras algo indissolúvel chamado AMIZADE!
E assim vamos juntos, compartilhando os momentos de frio na barriga e rindo dos tombaços que levamos. E a cada dia nosso laço fica mais difícil de ser desfeito, a cada dia mais juntos, e tudo fica mais lindo, a cada dia mais livre, pois amizade verdadeira remete à liberdade, somos livres para sermos o que somos.
Esta "bicicleta sem freio", eu compro, e nao faço questao de pagar as prestaçoes pelo resto da vida!